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A ferrovia chega em Catanduva em 1910 e se
caracteriza como principal propulsor do progresso ao povoado e promove a cidade
como centro regional. Antes disto a cidade possuía pouca importância, seus
produtos escoavam pela Estrada do Taboado, em cavalos e lombo de boi. Esta
estrada não passava por Catanduva, mas sim por Palmares Paulista – a época
chamada de Cordão Escuro. Na ocasião do traçado de expansão da linha férrea que
passava por Araraquara e modernizava o sistema de escoamento da produção,
optou-se por um percurso diferente do que era o da Estrada do Taboado. Provavelmente
uma das razões que tenha motivado a alteração do traçado da linha férrea tenha
sido a influência da família de Santos Dumond que possuía uma próspera fazenda
em Santa Sofia (Santa Adélia) com mais de 1 milhão de pés cafés. Assim a
expansão da linha férrea segue seu traçado margeando o Rio São Domingos e
beneficiando Catanduva. Fato este que desloca a importância de centro regional
de Palmares Paulista para Catanduva. Pode-se supor a importância deste fato
como principal propulsor do progresso ao povoado que passa a ser denominado de
cidade oito anos depois.
O primeiro loteamento de Catanduva foi motivado
pela expansão da linha férrea e foi chamado de “Vila Consola” em homenagem a
esposa do loteador Pedro Celli. O loteamento compreendia o espaço entre a Rua
São Paulo e Mato Grosso; Santa Catarina e Espírito Santo. Hoje este loteamento
pertence ao bairro de Higienópolis. O loteador doou os terrenos: da Praça da
Independência (atualmente onde se localiza a Catedral Santuário Nossa Senhora
Aparecida), do antigo pátio de manobras e da Estação da Estrada de Ferro, em
troca do direito de explorar o botequim que ali seria instalado.
Quando a EFA chega a Catanduva o tão comemorado
sistema de transporte férreo já possuía problemas financeiros. Mediante isto, a
ferrovia que pertencia à Companhia Araraquara (CA) é adquirida pela The São
Paulo Northern Railroad Company. De acordo com os registros, a partir daí os
serviços se deterioram. Havia atrasos constantes nos trens de passageiros, era
comum o descarrilhamento de trilhos e não havia vagões suficientes para
escoamento da produção. Num ato de protesto em 19 de outubro de 1919, com bandas,
rojões e discursos, a população de Catanduva incendeia a estação, carros de
transporte e a ponte da Rua Sete de Setembro. Segundo relatos, este fato
auxilia para que logo depois o Governo de Estado encampe a ferrovia, passando
esta a ter a denominação Estrada de Ferro Araraquara (EFA). Mais tarde, na
década de 90, novamente o sistema ferroviário será objeto de concessão através
do Programa Nacional de Desestatização (PND).
Em junho de 1948 é inaugurada a Estação da EFA,
em estilo Art Decó o que alavanca ainda mais o comércio daquela região da
cidade, principalmente nas ruas paralelas à linha férrea: Rua Rio de Janeiro e
Rua São Paulo. Os imóveis desta rua eram geralmente destinados ao comércio e
serviço à sua frente, implantados sem recuo frontal e com uso residencial ao
fundo; edificados com predomínio dos estilos eclético, art decó e outros
estilos modernizantes. Catanduva foi a estrada de ferro que mais café embarcou
em todo o Brasil, sendo que em 1956 encabeça a campanha dos cafés finos, também
conhecida como Movimento de Catanduva.
A estação com o conjunto de edificações e
barracões que eram destinados ao armazenamento da produção ainda hoje são
marcos referenciais visuais e históricos da cidade, apesar de muitos edifícios
que fazem parte deste patrimônio tenham sido demolidos. A época, no entorno
também foram instalados hotéis destinados aos viajantes e um cinema. Ou seja, o
espaço se tornou uma nova e vigorosa centralidade urbana.
Com o passar dos anos o sistema ferroviário em
nível municipal, para a cidade de Catanduva, perde sua importância. Em 2001 foi
cessado o transporte de trens de passageiros e a Estação Férrea perdeu sua
função. Em 2003 a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) permite a ocupação do
prédio da Estação de forma imediata e precária. Porém o prédio só vai ser
ocupado em 2006, sendo denominada como “Estação Cultura”, ao lado da antiga
estação rodoviária. Hoje este edifício além de abrigar a Secretaria de Cultura,
também oferece cursos gratuitos de música, teatro, pintura, desenho, dança,
bordado e macramê. As vagas são muito disputadas, sendo que a população
amanhece em fila nos dias determinados para as inscrições das oficinas. A
região após sua remodelação se constitui em um dos cartões postais da cidade.
A CIDADE. Em 1919: população incendiou a estação de São
Paulo Norte. Catanduva, 14 abr.
1968.
BASSANETTI, Nelson. Francisco Matarazzo, à frente do seu tempo. Estrada do Taboado. Catanduva, 10 mai. 2020. Disponível em:
BASSANETTI, Nelson. Francisco Matarazzo, à frente do seu tempo. Vila Consola e estrada de ferro São Paulo a Mato
Grosso. Catanduva, 09 jul. 2014.
Disponível em:
BOLINELLI, Sérgio Luis de Paiva. Anotações diversas. Centro Cultural e Histórico Padre Albino: Catanduva, 1966.
CORATO, Aline Coelho Sanches; PORTO, Daniele Resende. Inventário arquitetônico de quatro edificações em
Catanduva: Casa Grande da CNEE e
imóveis da Rua Rio de Janeiro. São Carlos, julho de 2006.
MACHADO, Carlos. O incêndio da estação. Feiticeira, Catanduva, ano V, n XXII, set. 1969.
NOTÍCIA DA MANHÃ. Rede
confirma cessão da Estação.
Catanduva, 01 mar. 2003.
QUAGLIA, Vicente Celso. A estrada do Taboado. Centro Cultural e Histórico Padre Albino: Catanduva, s.d.